“A terapêutica dupla com dolutegravir (DTG) mais darunavir potenciado com ritonavir ou cobicistat (DRV/rc) é uma combinação de fármacos com uma elevada barreira genética e um regime de dose simples que poderá ser utilizado por doentes com infeção por VIH, elegíveis para terapêutica de resgate, após experiência a outros fármacos ou nos casos em que estão documentadas mutações de resistência a múltiplas classes de antirretrovíricos”, começou por assinalar o Dr. Ricardo Correia de Abreu, infecciologista na Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM) e um dos autores do poster “Treatment-experienced HIV-1 infected patients under salvage regimen with dolutegravir and boosted darunavir: a real-life scenario”, apresentado no HIV Glasgow 2022.
Segundo adiantou o médico, “na ULSM encontram-se atualmente em seguimento estrito cerca de 1130 doentes com infeção por VIH”, 930 dos quais estão sob tratamento antirretrovírico. Destes, “93% estão suprimidos virologicamente, tendo em conta uma carga viral <50 cópias/mL”. Porém, “há um número de doentes para os quais as opções terapêuticas são limitadas”.
Uma análise retrospetiva que avaliou a eficácia da combinação de DTG + DRV/rc em doentes com infeção por VIH-1, com experiência prévia a outros tratamentos, conduzida por especialistas da ULSM, incluiu um total de 40 doentes “heavily treated”: 18 mulheres e 22 homens, com um risco de transmissão sexual observado em 77,5% destes doentes. 47,5% já foram previamente expostos a tratamento com inibidores da protease e 60% a inibidores da integrase. 18 destes doentes tinham uma história de doença oportunística com hospitalização. “As mutações de resistência a fármacos prévias (72,5%), a simplificação terapêutica (22,5%) e a toxicidade com a medicação anterior (5%) foram as razões que motivaram o início do tratamento com DTG+DRV/rc (uma terapêutica experimental)”, escrevem os autores no abstract do trabalho.
“A combinação de DTG + DRV/rc – um esquema com alta barreira genética – atua em dois locais do ciclo de replicação do vírus (integrase e protease)”, clarificou o Dr. Ricardo Correia de Abreu. “Os doentes a quem foi proposto este esquema apresentavam problemas de má adesão prévia e muitos deles com contagens de CD4+ muito baixas, motivadas por má adesão e má compliance. Apesar de todos os progressos na área da terapêutica antirretrovírica, os doentes multiexperimentados continuam a ser um desafio na prática clínica”, salientou o infecciologista.
Este estudo fornece “mais dados de vida real sobre a experiência clínica relativa à combinação de DTG + DRV potenciado”. Na perspetiva do Dr. Ricardo Correia de Abreu, “o desafio foi encontrar um esquema simples, eficaz, com elevada barreira genética e com um forgiveness que permitisse ter alguma capacidade de resposta e manejo perante estes casos de doentes multiexperimentados em tratamento antirretrovírico”.