Envelhecimento saudável na pessoa com VIH: conceito e medidas a tomar para um futuro com maior qualidade de vida

Durante a sessão “Ageing with HIV: From Knowledge to Action”, organizada com a colaboração do European AIDS Treatment Group (EATG), o Prof. Doutor Giovanni Guaraldi, docente na Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia (Itália), abordou o conceito de envelhecimento saudável, com enfoque nas pessoas que vivem com VIH e nos obstáculos inerentes diários. “O que significa envelhecer e o que é o envelhecimento saudável” foram as questões às quais o Prof. Doutor Giovanni Guaraldi se propôs responder durante a sua palestra, começando por assinalar a complexidade do tema e a necessidade de abordar os desafios inerentes ao envelhecimento nas pessoas infetadas pelo VIH, já que, graças aos tratamentos cada vez mais eficazes, vivem muitos mais anos, ao contrário do que acontecia há algumas décadas. Tal como descrito pelo palestrante, as pessoas que vivem com VIH têm uma maior carga de doenças não transmissíveis, tais como, patologias cardiovasculares e respiratórias, diabetes, etc., podendo sofrer com mais do que três em concomitância. Mais ainda, nestas pessoas, a prevalência de fragilidade é superior à encontrada na população saudável, acontecendo, inclusivamente, em idades mais precoces tais como entre os 45 e os 50 anos. Sobre o conceito de envelhecimento saudável, o especialista classificou-o de acordo com as indicações da Organização Mundial da Saúde, publicadas no World Report on Ageing and Health de 2015: “Processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que permite o bem-estar na velhice”, sendo esta constituída por seis “atributos relacionados com saúde que permitem à pessoa ser e fazer o que valorizam”. A vitalidade e as capacidades auditivas, cognitivas, psicológicas e de locomoção, bem como a capacidade de visão, são os seis fatores mencionados pelo orador. Existe ainda a capacidade intrínseca de cada indivíduo, que engloba todas as capacidades mentais e física e que, segundo o Prof. Doutor Giovanni Guaraldi, “está reduzida nas pessoas que vivem com VIH devido à carga de comorbilidades e à fragilidade”. “O intervalo existente entre a capacidade intrínseca e a capacidade funcional depende do ambiente”, afirmou, explicando que o mesmo depende do bem-estar individual, do sistema de saúde em questão, do apoio da comunidade em que se vive e do idadismo (atitude preconceituosa e discriminatória com base na idade). O especialista referiu que “a capacidade funcional reduzida está associada com a interseccionalidade do idadismo e do estigma relacionado com o VIH”, que levam a um maior impacto da solidão, algo muito observado nas pessoas em idades mais avançadas e particularmente em quem vive com infeção VIH. Antes de terminar, e para passar do conhecimento à ação, o Prof. Doutor Giovanni Guaraldi expôs um conjunto de intervenções para mitigar algumas condições associadas à fragilidade: Polifarmácia: reconciliação terapêutica a cada visita, não prescrever; Défice cognitivo: iniciação precoce da terapêutica antirretroviral, rastreio de défice cognitivo de acordo com as guidelines; Quedas e fraturas: rastreio da fragilidade e atividade física; Sarcopenia: atividade física três vezes por semana, suplementação proteica; Malnutrição ou peso excessivo/obesidade: consumo calórico diário adequado, aconselhamento nutricional e atividade física. Além disto, o palestrante mostrou o “2022-2030 HIV Strategy” da OMS, focada na “chamada de atenção para o objetivo de atingir bons outcomes de qualidade de vida, que enfatiza a importância dos serviços de saúde centrados na pessoa e que incluiu um call to action para uma maior integração entre os serviços para doenças transmissíveis e doenças não transmissíveis, bem como ações que reconheçam a relevância do estigma e discriminação, da saúde mental e da incapacidade e reabilitação”. Assim, a seu ver, para “passarmos do conhecimento à ação, existem cinco prioridades clínicas”: Oferecer serviços integrados de saúde com foco nas multimorbilidades, na fragilidade, nas síndromes geriátricas e saúde mental; Identificar o profissional de saúde de cuidados primários que será o “condutor da orquestra” dos muitos especialistas e que funcionará como um “health coach” para empoderar a pessoa que vive com VIH a viver uma vida mais saudável; Combater a polifarmácia, “desprescrevendo” (incluindo regimes antirretrovirias) para reduzir as interações entre fármacos, a carga anticolinérgica e a prescrição inapropriada de fármacos; Ouvir cada doente com necessidades não atendidas e integrar medidas de patient reported outcomes na prática clínica que podem depois ser usados na tomada de decisão partilhada com as pessoas que vivem com VIH; Combater o idadismo institucional e interpessoal, e oferecer intervenções sociais e para a comunidade, de forma a diminuir a solidão.

Envelhecimento saudável na pessoa com VIH: conceito e medidas a tomar para um futuro com maior qualidade de vida

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