Os dados epidemiológicos europeus indicam que 98% dos casos de Monkeypox foram detetados em homens, 96% dos quais MSM (men who have sex with men). O vírus responsável pela varíola dos macacos (Monkeypox) foi identificado nestes animais, pela primeira vez, em 1958, na Dinamarca. Em 1970 foi confirmado o diagnóstico de Monkeypox em humanos, num bebé, no Zaire. De 1970 até 2019, os casos de Monkeypox estiveram, sobretudo, concentrados em países do continente africano, nomeadamente na República Democrática do Congo. “Em 2017-2018, após um surto de Monkeypox na Nigéria, houve uma forte suspeita por parte dos clínicos de que havia transmissão por via sexual, através de secreções genitais”, assinalou a Prof.ª Doutora Chloe Orkin, infecciologista no Barts Health NHS Trust, em Londres.
Uma revisão retrospetiva mostra que, dos 40 doentes hospitalizados (2017-2018, surto na Nigeria), 9 tinham um diagnóstico de infeção por VIH, 4 destes com contagem de células CD4+ <200 células/mL. A maioria destes 40 doentes não estavam virologicamente suprimidos. “Os números atuais, relativos ao surto global de 2022, mostram dados discordantes de Monkeypox entre pessoas que vivem com o VIH. No geral, a proporção de pessoas que vivem com VIH com diagnóstico de Monkeypox parece variar de 38% (US dataset) até 46,5% (Organização Mundial da Saúde). Segundo o Global case series, 41% de um total de 528 casos confirmados de Monkeypox em humanos, reportados em 16 países, tinham um diagnóstico prévio de infeção por VIH”, confirmou a preletora da sessão “Monkeypox: Where Are We Now and What Have We Learned?”, integrada no programa do dia 26 de outubro do HIV Glasgow 2022.
O Dr. Sanjay Bhagani, especialista em Doenças Infecciosas no Royal Free Hospital/UCL e presidente da European AIDS Clinical Society (EACS), foi outro dos oradores desta sessão, a quem coube abordar as estratégias vacinais e de tratamento para o vírus Monkeypox. “A varíola dos macacos (Monkeypox) é uma zoonose causada por um vírus do género Orthopoxvirus, que é também responsável pela varíola em humanos.”
Segundo o presidente da EACS, estão aprovadas três vacinas para a varíola, as quais estão a ser usadas atualmente como estratégia de prevenção da Monkeypox humana (hMPXV). A vacina MVA-BN é uma das três vacinas utilizadas no hMPXV. Trata-se de uma vacina de DNA recombinante baseada no vírus Vaccinia Ankara modificado, que, em estudos animais, demonstrou conferir proteção contra a varíola dos macacos e dos coelhos.
A propósito desta vacina, o preletor lembrou que os indivíduos a quem foi previamente administrada a vacina viva contra o Rotavírus (VARV) apenas necessitam de uma dose da vacina MVA-BN. “A vacina deverá ser oferecida a crianças com risco elevado de complicações, até porque a segurança com esta estratégia já foi demonstrada com outras vacinas de vetor MVA. Esta vacina está contraindicada em pessoas com reações alérgicas graves a componentes incluídos no processo de manufatura, como benzonase, ciprofloxacina ou gentamicina”, assinalou o orador.
No contexto de tratamento, estão a ser avaliados imunomoduladores, VIGIV (Vaccinia Immune Globulin), antivirais de ação direta, como tecovirimat, cidofovir e brincidofovir. Tecovirimat está a ser utilizado no Reino Unido apenas em doentes hospitalizados por Monkeypox, com doença grave. Este antiviral já está a ser avaliado em estudos como o PALM007, PLATINUM, STOMP e EPOXI. Além destes ensaios, estão a decorrer outros estudos aleatorizados e não-aleatorizados com tecovirimat: PLATINUM-CAN (Canadá), WHO Core, UK EAP, CDC/USA EAP-IND e MOSAIC collaboration.